Mitos Urbanos

Quem cresceu nesse micro-cosmos de nome “Monte Abraão”, terá certamente na memória algumas personagens dignas de histórias do género do senhor dos anéis… Fica aqui a minha visão (que poderá ser falsa) de duas que ainda hoje ocupam parte do meu coração: a “Ana Banana” e o “Barão”

A “Ana Banana”, numa época em que eu abandonava gradualmente os legos e tentava dedicar-me às mulheres (sem qualquer êxito), era uma moçoila que habitava algures no bairro da caixa e costumava passar, com alguma frequência pela minha rua. Cabelos encaracolados e a cara cheia de sardas. Até aqui nada de especial.

Até que um dia alguém se saiu com o seguinte discurso: “sabes quem é aquela? É a Ana Banana. F*** por 100 escudos (a moeda da época, para os mais novos)!!! Dizem que tem um mealheiro cheio de moedas!!!!”

E pronto. A pobre rapariga ficou imediatamente catalogada!!! Pior que isso, ainda que o dinheiro tenha desvalorizado muito, 100 escudos era uma quantia a que ainda se conseguia deitar a mão, e assim ansiava pelo dia em que me fosse proposto uma ida ao “banco”. Imaginava-a com um frasco de doce cheio de moedas, conquistadas com o fruto do seu trabalho… Nunca mais a vi… Mas a fama será sempre dela!

O Barão era daquelas pessoas a quem as nossas mães aconselhavam distância! Com mais que 30 anos, vivia numa barraca, em frente à da mãe, usava o mesmo casaco seboso durante 365 dias por ano, barba e bigode por fazer, chapéu à caçador e costumava rondar a escola. Acho que não vendia doces a criancinhas, mas provavelmente não por falta de vontade... Costumava andar com uma mochila cheia de tralha e era visto com alguma regularidade entre Queluz e Lisboa. Há mesmo quem o tenha visto a passar por cego ali por terras do Rossio.

Percursor do “choque tecnológico”, tinha um telefone que ligava a sua habitação à da sua mãe!!

Numa tarde qualquer vem a descer o monte com as mãos completamente entrapadas. “Explodiu-me a barraca… Fiquei com as mãos assim a tentar tirar de lá a minha mãe! Foi uma bilha de gás…”

Talvez graças a ele exista a expressão “Até a Barraca Abana”!