Manel, o meu barbeiro.

Apesar de ter deixado o Monte há quase dois anos, ainda lá volto para cortar o cabelo. Como vi uma vez num filme de mafiosos, dizia um deles para outro: “o único homem em quem podes confiar é o teu barbeiro…afina de contas…deixas mais algum homem mexer-te assim na cabeça?”.Existe grande sabedoria nestas palavras.
Todas as vezes que tentei ir cortar a trunfa a um estabelecimento diferente, a coisa deu para o torto. Muitas delas acabaram comigo a pedir uma máquina emprestada e por e simplesmente rapar o corte ridículo que me tinha sido aplicado.
É por estas e por outras que aqui vos venho falar do meu barbeiro: o xôr Manel Mesquita!
Manel Mesquita trabalhava na Lisnave, operando com gruas enormes e peças gigantescas. Era um viciado em trabalho, segundo conta. Um dia sentiu-se doente, teve um colapso nervoso, depois uma depressão, e é então que decide mudar de profissão e dedicar-se a algo mais calmo: tira um curso de barbearia, cujo diploma ostenta com orgulho por cima do espelho da sua barbearia.
Homem de poucas falas, conta estas histórias apenas aos clientes mais antigos.
Ao contrário de 99,9% dos barbeiros, este homem não gosta de falar de bola. Não percebe puto de bola, detesta bola e odeia os futebolistas...”esses ladrões que ganham milhares para dar dois chutos numa bola”.
Basicamente, o xôr Manel odeia maior parte das classes. Políticos, advogados, médicos, mecânicos, taxistas, etc. Quando começa a descascar em alguém, aquele homem de poucas falas, transforma um corte de meia hora, numa hora de sofrimento, a vê-lo falar através do espelho, indignado e ruborizado a esbracejar. Por vezes até diz “foda-se” e “puta”…que maluco este Manel.
Na sua barbearia existe um pequeno letreiro que diz qualquer coisa como isto:
“Por favor, verifique se tem dinheiro antes de cortar o cabelo. Isto é para aquelas pessoas que arranjam desculpas e depois fogem e nunca mais aparecem e são ladrões.”. Obviamente o nosso Manel já foi endrominado mais de uma vez…
Depois de cada corte, lava meticulosamente os pentes e escovas e coloca-os numa caixa negra com uma porta de vidro baço, caixa essa que está ligada à corrente.
Um dia perguntei: “Ó xôr Manel, para que é que serve aquela caixa?”.
“Aquilo é um esterilizador” disse com orgulho.
“E como é que funciona?”.
“Aquilo tem uma lâmpada ultra violeta…quer ver?”. Nisto carrega num interruptor da tal caixa, e acende-se um luz dentro desta, mostrando o seu interior cheio de pentes, escovas e tesouras…a “farramenta” como ele diz.
“Mas ó xôr Manel…eu nunca vi essa luz acesa antes?” disse eu.
“Pois claro! O meu médico disse que esses não sei quê violetas fazem cancro…e eu não vou lá meter a mão…era o que faltava.”
“Então e como é que é feita a desinfecção?” pergunto eu novamente.
“Além de lavar tudo muito bem depois de cada cliente, a própria lâmpada dos ultra violetas tem insecticida, que faz efeito mesmo apagada!”
Com esta é que ele me fodeu!