Dilema de um surdo-mudo

Chegava eu de mais um dia de jorna, pronto para passar a 25 de Abril e seguir para o aconchego do lar, quando me deparo com uma fila do caraças antes das portagens.... Obras, pensei eu com alguma compreensão, e aguentei-me sem pensar mais no assunto... Faz-se uns telefonemas, ouve-se rádio e a coisa compõe-se.... A meio do tabuleiro, duas faixas cortadas, carros da polícia e um burburinho tremendo, mas obras nem vê-las... Olho em direcção ao rio e vejo um tipo sem capacete agarrado aos tirantes da ponte.. Fonix, obras? manutenção? que raio é isto? e segui calmamente o meu itinerário sem pensar mais no assunto.
Há noitinha, no meio do quinto zapping, dou por mim no telejornal da TVI: "Surdo-mudo mata a mulher e foge para a ponte 25 de Abril - tentative de suícidio gorada face à brilhante prestação dos psicólogos da Judiciária"
Após uma branca de alguns segundos, ocorreu-me.... tu queres ver que era o gajo...
E só podia ser.
Dissertando um pouco à volta de toda esta problemática cheguei a algumas conclusões:

- A mulher podia moer-lhe a cabeça à vontade que o tipo não ouvia, e se ela insistisse tinha de correr atrás dele a gesticular... a solução não era matá-la, era pura e simplesmente fechar os olhos...

- O gajo, para além de surdo-mudo é parvo... quem é que foge para cima de uma ponte? Pior só o macaco que fugiu para cima do arranha céus, mas convenhamos...

- Os gajos da Judite são de facto óptimos... comunicaram com o surdo-mudo que, provavelmente sabia ler nos lábios, mas que diacho.... como é que o tipo respondia? Agarrado ao tirante, se tentasse a linguagem gestual era certinho que ia lá parar abaixo...

- O tipo agora vai preso, e tem uma vantagem: não vai ouvir os pedidos insistentes dos compinchas: "Apanha ai o sabonete, pá.."